Eu que me comovo por tudo e por nada

A M. tem 12 anos e quer ser gestora. Quer dizer, o que ela queria mesmo ser era dona do Continente, mas já deve ter percebido que a probabilidade de se cruzar com um (bis)neto do Belmiro é mais que pouca.
A M. sempre achou imensa graça às lojas e até tem uma expansão dos Sim2 sobre comércio. E é um ás a Matemática (sim, nas aulas e nos exames...), pelo que a gestão lhe parece um bom sucedâneo.
Mas a M. é uma criança normalíssima, juro. Brinca, faz birras, é amorosa. Cresce. Exactamente como tantas outras.
Vem isto a propósito da última crónica de António Lobo Antunes na Visão, na qual diz preferir os padeiros aos gestores e economistas, porque, depreende-se, os padeiros são mais genuínos, mais humanos, mais... E até imagina a infância infeliz dos gestores e economistas.
Entedia-me este pensamento binário (o Saramago prefere a versão "ricos contra pobres"...), em que se diaboliza parte da Humanidade para enaltecer o carácter e a bondade dos desgraçados. No fundo, uma versão actualizada da salazarenta Casa Portuguesa... Ou do cheiro a mofo da mui católica "felizes os pobres (de espírito, se bem me lembro)"...
Ora, caro António, as pessoas são boas ou más, genuínas ou não, felizes ou nem por isso, humanas ou menos humanas, independentemente da maneira ou do lugar em que vivem ou nascem, do dinheiro que têm, da actividade que exercem... Há padeiros bons e felizes, como há padeiros sacanas e miseráveis... E com os banqueiros e os economistas e os gestores é a mesma coisa.

[texto escrito após ler a citação feita pela Ângela, que, apesar de sonhar com "balanços e relatórios" tem um dos cantinhos mais interessantes da blogocoisa nacional]





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